Gustav Klimt - Buchenwald I, 1902


Não são frívolos os outonos quando,
pelo labor do vento, despem as faias
e juncam de folhas o chão.
Deixam pelos bosques uma promessa
que sob os nossos pés sucumbirá,
ao som do cric-crac das folhas a estalar.

Mas os olhos sentem o aconchego
das cores mais quentes que anunciam
invernos de cinza e neve,
invernos a nascer nos ventres outonados
pelo sol que no horizonte se esconde,
cansado de tanta dádiva.

Não são frívolos os outonos quando
abandonam os animais ao destino
que sobre eles o tempo traz.
Os homens deixam a floresta
e recolhem-se no calor das casas
para beber o vinho novo que virá.



Não são frívolos os outonos quando
passas a tua mão nos troncos rugosos
das faias e contas, um a um, os nós,
as feridas abertas no corpo,
as gotas de seiva que a vida
inquieta germina na pele vegetal.

Mas a tua voz é como a fogueira
que arde no meu coração:
a lenha a crepitar entre labaredas
e a alma furtiva é um ramo de faia
escondido no bosque onde, pela manhã,
as folhas tocadas pelo vento caem.

J. C. M.


Sem comentários:

Enviar um comentário